04 fevereiro 2009

RITUAL DO AMANHECER


Cumpra este ritual no primeiro dia da lua nova, exatamente após ter despertado.


Ao acordar, olhe em primeiro lugar para a janela e observe atentamente o dia lá fora. Não importa se chove ou se brilha intensamente. Observe apenas, desprovida de todo e qualquer conceito avaliador. Tente beber a luminosidade do dia, como se fora precioso suco; deixe-a escorregar por sua garganta e se espalhar por suas veias, aquecendo todo o seu corpo.


Quando sentir que está aquecido o suficiente, levante-se da cama devagar e movimente seu corpo languidamente, traçando curvas sinuosas no espaço. Deixe que seus pés descalços deslizem no chão experimentando-lhe a textura em contato com sua pele e tente imaginar diferentes solos; você perceberá que, aos poucos, será capaz de identificar mínimos grãos de poeira, imperceptíveis veios de madeira ou, até mesmo, se o chão de seu quarto for coberto por tapete, um delicado fio de cabelo enroscado na
trama.


Saia do quarto e dirija-se ao banheiro, como de costume. Você notará que seus pés estão tão sensíveis, que a simples mudança de temperatura do assoalho provocará um suave arrepio. Procure sentir a temperatura fria do chão invadindo todo o seu corpo. Repare, então, os músculos de sua pernas enrijecendo e dando-lhe nova energia, nunca antes experimentada. Dirija-se ao chuveiro a abra totalmente a torneira, deixando que a água jorre abundantemente. Dispa-se e entre sob o jato, deixando que todo o
seu corpo receba a rigorosa ducha.


Procure não passar sabonete e esfregue-se com suavidade, tentando perceber todos os seus contornos.


Sinta seus poros se abrindo, como delicadas pétalas ao receber o orvalho. Escove os dentes com os dedos, sentindo cada dente, cada saliência de sua boca, que você descobrirá extremamente macia e possuidora de forte calor, a ponto de quase queimar a ponta de seu dedo. Estique a língua e deixe que a água do chuveiro caia sobre ela. Procure detectar o sabor da água, delicioso e impregnado de energia. Desligue o chuveiro e sacuda seu corpo, como fazem ao animais. Seque-se naturalmente sem o auxílio de toalha.


Após o banho, dirija-se à cozinha para o preparo do seu café. Acenda um incenso de canela e salpique margaridas pelo chão. Delicadamente, coloque água na chaleira, acenda o fogo e, antes de colocar a panela no fogo, aqueça suas mãos ao calor de chama; depois esfregue-as vigorosamente uma contra a outra e só então coloque a água para ferver. Enquanto espera, prepare a mesa, enfeitando-a com flores no centro e salpicando gotas de alfazema sobre a toalha.


Ao abrir o pote de café, aspire o suave aroma desse pó escuro como a terra, pense nos seres que o plantaram e depois o beneficiaram para que você o desfrutasse. Procure sentir o calor do trabalho no suave burburinho da água fervendo à espera do pó de café. Deposite-o, então, com gestos delicados e mexa a mistura com uma colher de pau até que levante fervura. Passe-o por coador de pano (não use o se papel) e coloque-o por fim na mesa.


Chame sua família ou amigos e convide-os para o café.


Na hora em que todos estiverem à mesa, dêem-se as mãos, formando um círculo, e permaneçam nessa posição por alguns minutos. Desfaça o círculo agradecendo à Grande Mãe por esse alimento.


Nesse ritual trabalhamos nossa própria energia que, quando acordamos, ainda está intacta, em estado bruto, porque, sob influência da liberdade do sono, não censuramos nosso corpo. Com o passar do dia, entretanto, estabelecemos limites para ele e, pouco a pouco, tornamos essa energia despotencializada. Com esse ritual aprendemos a fortalecê-la, para que possamos seguir o passar das horas em plena posse de sua força.


Se o realizarmos pelo menos três vezes ao mês, ou seja, nos três primeiros dias da lua nova, veremos que ao fim de quatro meses já estaremos mais fortalecidos e muito mais perceptíveis às energias que nos cercam. Se possível, passar aos outros membros da casa a sua experiência, para que juntos possam desfrutar desse maravilhoso fortalecimento, porém nunca tente impor sua prática, seja de maneira direta ou indireta. Não é correto induzir o outro, muito menos iludi-lo. Deixe-o perceber a sua
transformação e escolher se quer ou não seguir seu caminho.
(Márcia Frazão)



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