10 março 2008

A mente

Sri Dhira Chaitanya


Br. Dhira Chaitanya visitou Arsha Vidya Gurukulam, Coimbatore, durante os meses de novembro e dezembro de 2002. A reprodução abaixo é um resumo e suas palestras para os estudantes residentes do Gurukulam.
Todos aqui estão em um questionamento espiritual. Cada um começa de um mesmo ponto e termina bem. Finalmente termina quando se descobre que a verdade é simples e bela e que esta sou eu próprio. Então, para ter a verdade como minha, eu necessito sem dúvida ter uma mente simples e contemplativa. Em outras palavras, eu tenho que crescer em termos de minha mente, porque ela sempre produz obstáculos, como pensamentos distorcidos, conclusões erradas sobre mim mesmo e sobre o mundo.
Apesar de meus pensamentos serem o que está mais próximo de mim, eles sempre me surpreendem. Eu sempre falo "Nunca poderia esperar que eu pudesse fazer isso", "Não sei o que está acontecendo comigo agora". Portanto, não sou consciente dos mecanismos da mente. Ainda assim, existe um padrão de pensamento em todos nós que é previsível. A psicologia lida com esses padrões de pensamentos através de certos modelos. Pode-se compreender a mente de uma pessoa dentro da estrutura desses modelos. Dois modelos são aqui apresentados.


Modelo Cognitivo: Todos os nossos padrões de pensamentos começam na infância. A criança vive num mundo de gigantes, diferente do mundo dos adultos. Pequenas coisas se tornam grandes. Se a criança está com fome, ela chora; a mãe dá comida e a criança fica feliz. Mas se ela chora por qualquer outro motivo e ainda assim a mãe lhe dá comida, ela fica frustrada. Como ela não consegue comunicar-se, então surge uma experiência de raiva. Sem falar no primeiro dia de escola. Tornando-se um adulto, a pessoa não consegue lembrar todas essas experiências. Mas eu sou o produto do meu passado. Todas as distorções do padrão de pensamento se desenvolvem a partir das minhas experiências de infância. Mas eu não sou consciente de todas elas. Conflito, ansiedade, raiva, dor, angústia, são manipuladas pela mente através de mecanismos chamados de defesa.
Essas defesas são de cinco tipos:


A) Deslocamento: Se um pai fica com raiva da criança e a castiga sem razão, a criança fica com raiva, mas não pode revidar, então ela desloca a raiva para o gato, para o brinquedo ou outro objeto, batendo neles.
B) Negação: Algumas vezes a mente não reconhece sentimentos de raiva, dor e etc.
C) Troca: Quando o marido fala para a esposa- "nós precisamos ter uma conversa sobre tal e tal assunto" a esposa evita, mas se torna muito ansiosa. Essa ansiedade dispara o gatilho das doenças psicossomáticas, como a enxaqueca e etc.
D) Projeção: Minha própria angústia me faz projetar o mesmo nas pessoas à minha volta. Então eu sinto "Ele olha para mim com raiva", "Esta manhã ele virou o rosto pra não falar", "Todos parecem não estar felizes comigo" etc.
E) Identificação: Como um indivíduo, eu me identifico com padrões de pensamentos de outras pessoas, sejam bons ou maus. Esses mecanismos são adaptáveis do ponto de vista da mente. Como adulto eu tenho que pensar com lógica, com uma crescente compreensão. Para me tornar livre de raiva, aflição etc, eu penso através de um mecanismo particular qualquer, que envolve certa consciência de mim mesmo. Eu não permito que qualquer julgamento sobre mim mesmo passe sem que eu o verifique, o que me proporciona mais espaço interno. Isso é chamado de objetividade em relação aos nossos padrões problemáticos. Sendo cognitivo, eventualmente eu lido melhor com esses mecanismos. Até mesmo a meditação ajuda a olhar para meu próprio padrão de pensar.


Modelo Ericsoniano: Todos nós atravessamos diferentes estágios de vida. Nós dominamos certas habilidades em cada um dos estágios. Junto com estas, conflitos também são carregados adiante. Se eu pular um estágio, eu irei perder certas experiências que me deixarão para traz. Vamos agora falar sobre esses estágios.


Primeira-Infância: A capacidade de confiar se desenvolve no primeiro ano de vida. Um bebê é totalmente desamparado, mas a natureza deu-lhe a capacidade de confiar totalmente. Quando o bebê está com fome e chora, ao invés de dar comida, se a mãe troca a fralda, a capacidade de confiar da criança começa a se corroer. Como bebê, todos nós juntamos certos graus de confiança e desconfiança através das nossas próprias experiências com o ambiente que nos cerca. E isso fica realmente com a pessoa pelo resto da vida. Assim nós encontramos algumas pessoas que são basicamente capazes de confiar e outras que não confiam.


Infância: A criança primeiro aprende a engatinhar, a andar, a correr, a falar etc. Essas funções do corpo fazem com que ela se sinta independente. Mas os pais não permitem que se levantem, que corram e etc. Aí a criança começa a duvidar de sua própria capacidade, do que pode fazer e o que não pode. Mas se a criança, neste estágio, desenvolve confiança, ela se torna autoconfiante quando adulto. Se o desenvolvimento da criança for reprimido aqui, isso pode também levar a uma baixa auto-estima.
Auto-estima é um valor que eu deposito em mim mesmo. É baseado na avaliação refletida. Uma avaliação através do espelho de outros. Eu sou inteligente, eu sou burro, eu sou deste jeito ou de outro. Assim é como eu avalio a mim mesmo. Eu me corrijo porque os outros me avaliam diferentemente. Nós estamos sempre dependendo do que os outros dizem sobre nós. Baixa auto-estima também pode surgir de ambiente muito cruel. E pode crescer através de padrões exigentes para nós mesmos. Eu sempre fico abaixo desses padrões, então, continuo me jogando ainda mais para baixo. Já existe aí uma deficiente opinião de mim mesmo que é reforçada por esta atitude. Isso resulta num mecanismo defeituoso de falta de motivação, como ficar deitado, gabar-se, exagerar e etc. Eu me torno crítico dos outros e assim o valor sobre mim mesmo cresce. Eu posso dar uma falsa atenção aos outros para assim conseguir a aceitação deles.
Baixa auto-estima e desconfiança não são fáceis de se desfazerem. Quando alguém não está sendo favorável a mim, eu desconfio. Isso não tem nada a ver com a pessoa, mas com a minha experiência da pessoa. A criança não tem a capacidade de entender plenamente, mas como adulto tenho capacidade de entender. Eu posso me questionar e em caso de dúvida considerar o outro inocente. Se eu descubro o sentido real da confiança em ??vara, que é infalível, então irei realmente conduzir a minha vida e ??vara vai me proteger! Então, a partir daí, desconfianças ou preocupações não permanecerão. Tenho que desenvolver uma auto-estima saudável, livre de distorções. Se sinto que estou satisfeito com quem eu sou, sei o que estou fazendo, não preciso que outros venham me dizer, e reconheço os meus esforços, então eu conheço a mim mesmo. E esta é a auto-estima saudável.


Adolescência: Neste estágio de vida, minhas concepções cristalizam-se. Eu desenvolvo a capacidade de olhar para os planos maiores. Cresço e me torno seguro de mim. Existe a capacidade de me abrir; se eu não me abro, me torno isolado. Nessa idade existe uma capacidade interativa.


Meia Idade: A média de pessoas nesta fase está mais ou menos satisfeita. A pessoa satisfez suas necessidades. Então, quer retribuir. Ela se torna filantrópica. Mas também existe a crise da meia idade. As minhas capacidades começam a declinar e eu reconheço isso. Eu me torno ansioso em recuperá-las; viro minha atenção e prefiro falar do passado ao invés do futuro. Posso me vestir estranho, querer comprar uma motocicleta, querer me casar novamente etc. Tudo isso é um comportamento inapropriado.


Então, vimos como adquirimos padrões impróprios de pensamento nos vários estágios da vida. Desfazer esses padrões e tornar a mente simples e cognitiva é crescimento. Para as mentes simples, o ensinamento de Vedanta funciona como fogo e a pessoa preenche o objetivo da vida humana.


Reportagem de Jneya Caitanya
Tradução de Gilda Estellita


"Existe sempre alguma coisa ausente que me atormenta" Camille Claudel, 1886


"Tome partido. Neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. Silêncio encoraja o torturador, nunca o torturado"- Elie Wiesel

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