04 novembro 2007

Antigos egípcios: “reformadores das pirâmides atlântidas”?



Vejam a imagem acima. A legenda "Hieroglifos" está sobre as câmaras superiores à "Câmara do Rei", que estavam fechadas e inacessíveis - só foram descobertas no século XIX quando as passagens foram dinamitadas. Nestas câmaras, como diz a legenda, há hieróglifos com o nome do faraó "Queóps" dispostos entre os blocos de pedra, isto é: tais hieróglifos só podem ter sido inscritos nos blocos durante a construção da pirâmide. Veja a imagem de um deles:



É a assinatura na Grande Pirâmide (mais sobre as inscrições aqui e aqui). Pois bem, há uma outra legenda na imagem no início deste post. Ela diz "Reforma".


Porque é esta a proposta de Marcelo Del Debbio, segundo o qual:



"existem inscrições dentro das pirâmides … , mas, como eu disse no meu texto, os grafitti foram feitos milhares de anos DEPOIS da construção das pirâmides. As pirâmides foram construídas por volta de 11.000 AC e os grafittis foram feitos por volta de 4.000 AC. Agora, se foram feitos pelos "reformadores das pirâmides atlântidas" ou se foram feitos pelos "construtores da tumba do faraó", cada um que julgue por si mesmo e acredite no que quiser".



Sim, toda a área indicada pelo gradiente vermelho teria sido uma reforma dos egípcios feita em 4.000 AC em pirâmides originalmente construídas por atlantes em 11.000 AC. Não acho que seja necessário fazer qualquer comentário adicional sobre a idéia: que "cada um que julgue por si mesmo e acredite no que quiser".


Del Debbio também replicou insistindo que "movimento dos planetas é perfeito", mencionando "uma lista com efemérides calculadas para cerca de 6.000 anos, com precisão absoluta da posição de cada planeta em décimos de grau". Precisão absoluta de décimos de grau é um oxímoro, não existe. E, como notamos, a própria lista que ele menciona apóia o que criticamos em suas teorias, que é o fato de que "em períodos de tempo muito longos, ou mesmo mais curtos mas dependentes de vários fatores …, os movimentos celestes podem acabar respondendo de forma imprevisível". Explico.


A lista indicada é baseada neste programa, que declara sua (im)precisão com relação a catálogos estabelecidos:



"Com os planetas interiores, Standish mostra que entre 1600-2160 há uma diferença máxima de 0,1-0,2″ … Com os planetas exteriores, os diagramas de Standish mostram que há grandes diferenças de vários " por volta de 1600, … Com a Lua há uma diferença que aumenta 0.9″/cty2 entre 1750 e 2169. Vem primariamente dos erros em LE200″.



Para efeitos práticos, estas são precisões fenomenais, mas não são precisões absolutas. E esta não é apenas uma objeção tola: embora haja enorme precisão para cálculos celestes ao longo de milhares de anos, a humanidade como espécie existe há mais de uma centena de milhar de anos, a vida existe sobre o planeta há alguns bilhões de anos, e o Universo tem algo em torno de 13 bilhões de anos. A precisão de cálculos celestes ao longo mesmo de milhões de anos já se torna significativamente imprecisa, e na casa dos bilhões, é quase completamente imprecisa em escalas terrestres. Del Debbio, curiosamente, acredita em um mito de infalibilidade e precisão científica que a própria não clama para si. Isto é, pseudociência.


Também há menções à "energia mais sutis da sincronicidade" - as quais não iremos nem tentar contestar - e ao alinhamento de monumentos antigos a constelações na data de 10.500 AC, seguindo as idéias de Graham Hancock, sobre as quais indicamos esta leitura. Não é de um cético, mas demole o mito de 10.500 AC. Há outros trabalhos expondo as inúmeras falhas desse mito, incluindo um documentário da BBC: Atlantis Reborn Again.


Note-se por fim que Del Debbio ignorou por completo nossa crítica a suas teorias sobre a Santa Ceia de Da Vinci.


http://www.ceticismoaberto.com/news/?p=1012


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