As mudanças climáticas que hoje preocupam a população do planeta foram detectadas às apalpadelas, inicialmente, na década de 1970. Um dos primeiros sinais foi o El Niño, fenômeno meteorológico temporário - que dura entre 12 e 18 meses - responsável pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico, com efeitos perversos (seca, enchentes, tufões) no clima do continente americano. Mais tarde, foi detectada a ação de La Niña (fenômeno inverso do El Niño), que provoca o esfriamento do Oceano Pacífico. Em seguida veio o efeito-estufa, apontado como causador de um buraco na camada de ozônio no Pólo Sul. Por fim, chegou-se à conclusão de que o aquecimento da superfície terrestre estaria causando mudanças climáticas muito mais drásticas.
Para estudar as origens e dimensões dos distúrbios climáticos, foi criado em 1988 o Painel Inter governamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), organismo internacional com presença crescente no noticiário. Integrado por mais de 2,5 mil cientistas de 130 países, o IPCC tem publicado relatórios preocupantes sobre os efeitos do provável aumento da temperatura global - de 1º a 4º C até o fim do século 21.
Segundo o último relatório, publicado em 2007, a conseqüência mais dramática do aquecimento global seria a elevação do nível dos oceanos, complicando a vida de milhões de pessoas em milhares de cidades litorâneas, de Nova York ao extremo Sul do Rio Grande do Sul. Também haveria distúrbios com ondas de calor, tempestades e incêndios. Outra conseqüência, além da inundação das cidades, seria a queda da população agropecuária. Os estudos do IPCC apontam na mesma direção do documentário Uma Verdade Inconveniente, produzido e apresentado por Al Gore, ex-vice presidente dos Estados Unidos. Não por acaso, Al Gore e o IPCC ganharam o prêmio Nobel da Paz ano passado.
Os dados apresentados por essas e por outras fontes vêm alimentando uma grande polêmica que ainda parece longe do fim. Entretanto, são cada vez mais isoladas as vozes que discordam da opinião preponderante que é grave a situação do clima no planeta. O aumento do número de catástrofes climáticas parece estar dando razão aos arautos do IPCC. No relatório de 2001, dava-se como provável (66% de certeza) que o aquecimento global é causado pelo homem; no relatório de 2007, a certeza passou para mais de 90%.
Segundo a definição desse organismo vinculado à ONU, mudança climática é uma variação estatisticamente significante de um parâmetro climático por um período longo. Ela pode resultar de processos naturais, de forças da natureza, de forças externas ou de alterações persistentes no clima do planeta por ações humanas. Entre estas, destaca-se a emissão de CO2 em volumes muito superiores à capacidade de absorção dos oceanos e florestas. Para alguns, é uma sangria desatada que põe em risco a sobrevivência das espécies na terra. Para outros, é um desafio que pode ser vencido com determinação e bom senso.
No Brasil, por determinação do presidente Lula, foi elaborado o Plano Nacional de Enfrentamento das Mudanças climáticas, subordinado aos ministérios do Meio Ambiente e de Ciência e Tecnologia, que trabalhão em contato estreito com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O plano parte da constatação de que, mesmo com a estabilização das emissões de poluentes nos níveis atuais, haverá um aumento de temperatura de 2º C a 2,5º C até o final do século. Por isso, o plano tem três pilares: 1) mitigar os efeitos das mudanças; 2) ajudar a população a enfrentá-las; 3) pesquisar os desdobramentos das mudanças e as alternativas disponíveis.
Sob o guarda chuva do plano, foi criada a Rede Brasileira de Pesquisas em Mudanças Climáticas. A partir dela, órgãos como o Inpe deverão intensificar os estudos sobre os impactos das mudanças climáticas na agricultura, nas florestas e nos rios, nas cidades, na geração de energia e em outros setores fundamentais da economia. Segundo o cientista Carlos Nobre, que trabalha no Inpe e faz parte do IPCC, "o próximo passo da ciência é tentar descobrir o quão perto estamos de um ponto crítico, de um ponto que em que não haveria mais retorno, como, por exemplo, um derretimento substancial das geleiras da Groenlândia, o que aumentaria o nível do mar em vários metros". Como usuário de recursos naturais o produtor de alimentos e combustíveis, o agronegócio tem responsabilidade central na busca de soluções para o problema, que é difusamente global, mas pode ser encarado localmente, em cada ecossistema onde o agricultor atua. Partes de Amazônia, por exemplo, podem virar savana, alertou um dos relatórios do IPCC. Há riscos também para o Nordeste brasileiro. No pior cenário, o Simi-Árido poderia perder 75% de suas fontes de água até 2050. E os reflexos disso claro, seriam fortemente sentidos pelo setor agrícola.
- Fonte: AMANHÃ Agronegócio Competitivo Nº III - Ano 2008
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