14 agosto 2010

Ele fez o mundo tremer


Image and video hosting by TinyPicNo século XIII, Gêngis Khan fundou um império que mais tarde iria do mar Cáspio ao oceano Pacífico, a partir da Mongólia. Tanto poder e preparo contrastam com sua origem: o líder passou a infância em completo desalento (Raro retrato do conquistador que tomou para si e para seus filhos a Ásia e parte da EuropaRetrato de Gêngis Khan, pintura em seda, escola chinesa, c.1155).


Nas profundezas da Ásia da segunda metade do século XII, a Mongólia oriental era um país bonito, mas rude. O clima da região era especialmente favorável à formação de guerreiros saudáveis e resistentes. Esses homens eram extraordinários cavaleiros, e seus animais, inigualáveis. Além disso, o armamento dos guerreiros incluía arcos excepcionais.



Nesse ambiente, ninguém poderia imaginar que aquele garotinho chamado Temudjin, nascido em um dia situado ora em 1155, ora em 1162, ora em 1167, estava fadado a resgatar a tradição de conquistas de seu povo.


E ainda a viver a aventura mais assombrosa que o mundo conheceu e a fundar o maior império da história em extensão contínua de terra.


O menino viveu os primeiros anos no seio da família nobre, mas modesta e sem maiores distinções. Aos 9 anos, perdeu o pai, assassinado pelos tártaros, o povo mais feroz e valente da Mongólia - por ironia, o adulto Gêngis Khan buscaria nessa tribo soldados para seu exército.


Nesse ambiente, ninguém poderia imaginar que aquele garotinho chamado Temudjin, nascido em um dia situado ora em 1155, ora em 1162, ora em 1167, estava fadado a resgatar a tradição de conquistas de seu povo.



MAPAS ERIKA ONODERA


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Oriundo de um pequeno território (mancha laranja), o futuro Gêngis Khan venceu todas as tribos vizinhas. Em 1206, era chefe de um verdadeiro Estado


A morte do pai significou o abandono da família pela sociedade local. Temudjin, com a mãe e os irmãos, viu-se reduzido a uma existência miserável nos montes Kentai. Mesmo faminto, acossado, quase sempre ameaçado de morte e até mesmo aprisionado uma vez, o garoto mongol conseguiu sobreviver e crescer em força e energia. Em dado momento, ficou noivo e se casou com alguém à imagem da mãe: dominante.


O casamento permitiu-lhe reingressar na sociedade e ficar sob a proteção da poderosa família da noiva, os kereyt, turcos cristianizados. A vida sem desalento também revelou seu gênio: em poucos anos, Temudjin se impôs e adquiriu ascendência considerável sobre os que falavam sua língua, o mongol. Tanto que, em 1196, foi eleito chefe, o khan. E logo tratou de se li vrar dos inimigos e invejosos e dos que se opunham à sua ascensão.


Em 1202, vingou o pai vencendo os tártaros e obrigando-os a servi-lo. Em 1204, o khan subjugou os turcos naimanos. Em 1206, os uigures aderiram espontaneamente ao poderoso chefe - eram igualmente turcos, mas do longínquo Turquestão chinês.


Depois de destruir, Gêngis Khan reconstruía. Não tinha como ressuscitar os mortos, mas mandava buscar outros vivos que os substituíssem. Em toda parte, organizava, instituía uma administração eficaz, recrutava os habitantes que a ele aderissem.


O chamado "perigo amarelo" já era conhecido na Europa, como memória assombrosa do século V, quando os hunos, liderados por Átila, promoveram ataques e conquistas em vários países. Provavelmente, eles provinham de tribos nômades da Ásia central.
No século XII, porém, parecia remota a possibilidade de ataques de nômades do Oriente. Fazia muito tempo que eles estavam quietos. Os turcos uigures, que formaram o último império das estepes, haviam sido destruídos em 840 por outros turcos, os quirguizes do Ienissei. Os vitoriosos nada construíram e não tardaram a recuar para o vale de seu rio, em 924.


A ÁSIA EM ARMAS


É de se perguntar como um povo tão pequeno conseguiu subjugar o mundo e empreender campanha em tantas frentes ao mesmo tempo. De fato, em toda parte por onde passavam, os imperadores recrutavam auxiliares, três homens em dez, notava-se às vezes. Os mais numerosos devem ter sido os turcófonos, mas também havia iranianos, árabes, caucasianos, chineses (em 1217, Gêngis Khan formou um corpo de artilharia chinês) e até arcabuzeiros mercenários.


Foi como se a Ásia inteira tivesse atacado a Europa em 1241. Essa reunião extraordinária de pessoas e a fidelidade que elas mostravam a seus vencedores causavam assombro. No entanto, é preciso concluir que, apesar dos horrores da guerra, o regime do vencedor agradava, tanto que angariou adeptos entusiastas entre os vencidos.
Por quê? Porque se apoiava na justiça, na solicitude, na tolerância religiosa. E porque impunha a paz e eliminava o banditismo, suprimia as fronteiras, estimulava o comércio, o artesanato, as artes e a ciência; porque onde quer que se estabelecesse gerava um renascimento extraordinário.


Jean-Paul Roux é escritor e ex-professor de arte islâmica da École du Louvre. Dedicou boa parte de sua vida ao estudo do mundo muçulmano, com foco nos turcos e nos mongóis.


por Jean-Paul Roux


Enviado por Alzira Miranda


Fonte: História Viva


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