05 novembro 2009

REFLEXÕES SOBRE A MEMÓRIA


A memória é a capacidade de reter e recuperar informações, permitindo que o indivíduo se situe no presente considerando o passado e o futuro. Ela fornece as bases para o conhecimento, habilidades, sonhos, planos e anseios. É, portanto, um aspecto central da inteligência e existência humanas (Tomaz, 1993).

O bioquímico sueco Holger Hydén demonstrou que, durante o aprendizado ocorre a síntese de proteínas cerebrais específicas. Assim, quando um animal começa a aprender uma tarefa nova, surge em poucos minutos uma proteína de vida breve, mais tarde o mesmo tipo de produção é verificado em áreas corticais responsáveis pelo armazenamento de longa duração, há, portanto, uma memória breve e outra prolongada (Covian, 1989).

Del Nero explica que, no armazenamento de informação, são formadas sinapses e sintetizadas proteínas. As sinapses ou conexões nervosas apresentam intensidades diferentes fazendo com que determinados estímulos sejam mais intensamente percebidos que outros, de acordo com as vivências particulares de cada indivíduo.

Para o autor, as cenas do mundo são percebidas pelo cérebro como oscilações. Ao longo do nosso desenvolvimento cognitivo, aprendemos a correlacionar as oscilações provenientes do mundo com as nossas oscilações cerebrais. As oscilações cerebrais unificadas constituem a mente. Assim através da atividade sincronizada de diferentes redes neuronais somos capazes de criar imagens mentais e transmiti-las usando uma linguagem (Del Nero,1997).

Nossas imagens de mundo envolvem a estruturação cerebral na forma de redes, as quais possibilitam perceber o mundo exterior ou os estímulos ambientais.

Precisamos construir redes neuronais, para ver ou captar o mundo. Isto envolve processos que dependem da interação entre sujeito e meio e obedecem às leis gerais do desenvolvimento biológico. Ao longo do desenvolvimento cognitivo, começamos a assimilar as informações, ou oscilações do meio, de acordo com as redes já constituídas.

Ao assimilar novas informações, podemos nos desequilibrar e a reequilibração vai depender de uma acomodação, a qual modifica o sujeito por promover a construção de novas redes neurais, sucessivamente.




Ao considerar o cérebro como uma estrutura que armazena as informações do mundo, e a codificação como uma forma econômica de armazenamento de dados, o símbolo surge como uma eficiente solução para uma melhor utilização da capacidade ou "espaço" cerebral.

A eficiência ou capacidade de simbolizar muda com o aprendizado e a experiência. Como exemplifica Del Nero (1997, p. 175), um mau jogador de xadrez, olhando para um tabuleiro pensaria, "se eu mover a torre para cá, o outro moverá o peão para lá", já o bom jogador, diante da mesma cena pensaria, "se eu ameaçar o flanco do rei, forçarei a troca de damas em alguns lances". Dessa forma, utilizando um mesmo espaço cerebral, ou memória trabalho[2], o bom jogador consegue antecipar mais jogadas do que o mau.

A experiência diferencia o bom do mau jogador, permitindo que, através de símbolos, o primeiro seja capaz de condensar em cenários o que o segundo observa apenas pontualmente. Quando Del Nero afirma que herdamos símbolos, comparando-os com pedaços de madeira, que esculpimos com a experiência, entendo que se refira a uma espécie de "matriz de símbolos".

Assim, da mesma forma que um filme fotográfico pode gravar informações luminosas, uma fita magnética, informações magnetizadas, um CD, informações digitalizadas, os neurônios de armazenamento de memória se constituem numa "superfície" capaz de gravar informação simbolizada.

Ao ampliar nossa capacidade de armazenar informações, os símbolos ampliam o próprio ato de percepção do mundo, embora, substituindo a resposta direta e imediata das reações orgânicas pela resposta diferida caracteristicamente humana.

Bibliografia:
COVIAN, Miguel R. O problema cérebro e mente. In: Ciência Hoje v. 10, n. 58, p. 16-20, 1989.

DEL NERO, Henrique S. O sítio da mente: pensamento, emoção e vontade no cérebro humano. São Paulo : Collegium Cognitivo, 1997.

TOMAZ, Carlos. Memória: mecanismos celulares. Ciência Hoje. São Paulo, v. 16, n. 94, p. 6-7, 1993.

Notas:
[1]- As nove musas são filhas de Manemosine e Zeus. São elas: Calíope da poesia épica; Clio da história; Polinia da pantomima; Euterpe da flauta; Talia da comédia; Erato do canto lírico; Tepsícore da poesia e da dança; Melpomene da tragédia e Urania da astronomia (
Refuerzo Tecnologia). O interessante é verificar que toda a inspiração é fruto da memória e do poder de criação.

[2]- É chamada de memória trabalho, a memória envolvida no processamento da ação.


REFLEXÕES SOBRE A MEMÓRIA


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